quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Dias e dias...

Tem dias que a gente parece não entender nada. Ainda assim, sente que é preciso resistir. Não dá pra seguir adiante sem fazer X no calendário.
O despertador toca e Maria sabe que precisa abrir os olhos, ainda insistindo em manterem-se ali, colados. O cobertor que aquece será jogado de lado. O colchão e o travesseiro ficarão vagos.
Naquele instante, o instinto e nada mais. A necessidade de estar de pé e cumprir a agenda.
Tem dias e dias que a gente não consegue entender o que vai aqui dentro. Momentos de angústia gratuitos, quando tudo lá fora vai bem. E é impossível reverter o quadro. A maior vontade é que o dia passe. E que o dia seguinte venha rápido para que aquele termine.
E a manhã seguinte vem. Sem o peso das horas que passaram.
O despetador nem incomoda tanto. O cobertor é deixado com menos pezar. E a vida volta ao normal. Tudo aqui dentro está de novo em conformidade com as coisas lá fora. A manhã desperta para um novo dia. E Maria pode marcar de rosa - ela jamais marcaria de blue - o X no seu calendário.

domingo, 30 de setembro de 2007

Santos na Vila Belmiro... é goooooolll!!!


Meus finais de semana têm sido especiais. Mas este, em especial, foi muito especial. Nossa, que jeito ridículo de começar um texto. Mas é para dar a dimensão da especialidade deste final de semana especial (risos).
O Santos é parte da herança que meu pai me deu quando eu ainda era pequenininha. É uma paixão que ele plantou em mim. E que ainda hoje rega como uma plantinha que precisa de cuidados. Mesmo sem entender muito de futebol, adoro ligar para meu pai em dia de jogo do Santos. Foi o que fiz hoje, mas era diferente. Eu estava na Vila Belmiro pela primeira vez.
O Santos ganhou de 1 x 0 do Vasco. E juro, isso é só mais um detalhe. Até porque foi uma vitória um tanto quanto fácil - calma vascaínos, fácil porque com a expulsão de Baiano o Santos ganhou a simpatia do trio de arbitragem. Aliás, por falar em arbitragem, que capotada foi aquela do juíz? Alguém sabe explicar? Aposto que nem ele. Pior que bem em cima de mim houve um acidente parecido... Ufa! Entre mortos e feridos salvaram-se todos.
Só não sei se salvaram as baleias que podem estar até agora encalhadas no vestiário do estádio. As mascotes do time e suas super fantasias fofuchas. Adorei as coreografias e as tentativas de correr em campo totalmente desengonçadas... Fico imaginando o treinamento intensivo de ator que aqueles dois seres humanos que estavam lá dentro tiveram para a difícil missão de colocar as baleias santistas pra dançar em campo. E eles nem tiveram a sorte do Pinóquio, do Gepeto e do grilo de serem engolidos por uma enooorme baleia. As da Vila não comportariam um barquinho de madeira não. Mas me divertiram muito.
"O símbolo do Santos não é peixe? Baleia é um mamífero..." Tive que ouvir e ficar quieta. (E preciso confessar que nunca tinha pensado nisso...) Bom, mas voltando ao jogo, quem fez o único gol do Santos mesmo? "Duvidoso", dizem os mal-intencionados. Mas como o que vale é o placar final, o gol da vitória foi de Rodrigo Souto. Ex-atleta vascaíno. Poxa, valeu pela herança Vascão...
Ah, preciso registrar também o tanto de vezes que o carrinho de "primeiros socorros" entrou em campo. Registrar meeeesmo não dá porque a certa altura perdi as contas. Mas com certeza esteve bem mais atuante do que muitos jogadores.
Bom, o mais importante mesmo é que eu entrei tão feliz quanto sai da Vila. Porque a vida é muito mais do que uma partida de futebol.
Adorei! ;)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A criança que há em mim

As vezes é mais simples do que parece. É mesmo. Veja, acho que estou começando a entender.
Durante um tempo, como que por descuido, me deixei adormecer. Bem aqui dentro, escondida entre coisas que nem sei o que. Entre os certos e errados da vida; os pode, não pode; os gosto, não gosto (mas deveria gostar)... e assim fui ficando ali, cada vez mais quietinha, encolhida, reprimida.
Aquela menina que usava rabo-de-cavalo pro cabelo não atrapalhar as brincadeiras, que adorava sorrir, cantar e sonhar, certo dia ouviu que precisava crescer. E, sabe-se lá porque, achou que para isso a menina precisava dar lugar a alguém que nem mesmo sabia quem ser. Mas as máscaras não duram para sempre. E a menina despertou. Acho que é isso. A menina se cansou de ficar dormindo e acordou. E hoje, enquanto ouvia músicas da minha infância, entendi porque ando assim. E porque coisas tão boas tem acontecido comigo.
Enquanto eu me preocupava em agradar, não era capaz. Agora que não me preocupo mais, sinto-me como um imã. Até velhos amigos reapareceram na minha vida. Será muito saudosismo? Que nada. Tudo isso é muito bom!
É Super fantástico não sentir saudades de si mesmo; poder rever velhos e bons amigos. É super-fantástico sentar e jogar conversa fora, recordar de quando a gente chorava e sorria por nada. Quando as bola-queimadas na rua eram só pretexto pra troca de olhares e os encontros na esquina para o beijo-roubado; quando esperávamos dias e dias pela carta da amiga que vinha cheia de fofocas e logo tinha resposta; de quando os estudos em grupo não passavam da primeira meia hora seguida de muitas aventuras; dos riscos corridos e não medidos mas bem vividos; dos cursos de pintura só pra depois sairmos por ai, pelas ruas, brincando de qualquer coisa; as trocas de bilhetes sobre os professores; as gincanas; imitar VAMP (eu juro, fiz isso e faria de novo)... e saber que basta um bichinho de pelúcia e uma boa noite de sono para refazer as energias e recomeçar um dia ainda melhor.
E como super fantasticamente as músicas são asas da imaginação, resolvi postar aqui Ursinho Pimpão (que estou ouvindo agora).

"Vem meu ursinho querido, meu companheirinho, Ursinho Pimpão.
Vamos sonhar aventuras, voar nas alturas, da imaginação.
Como na história em quadrinhos, eu sou a sininho, você Peter Pan.
Vamos fazer nossa festa, brincar na floresta, Ursinho Tarzan.
Enquanto o sono não vem, eu sou chapeuzinho, você meu galã.

Dança também, Pimpão
Pelo salão, Pimpão
É tão bonita, nossa canção.
Manhã já vem, Pimpão
Dorme Pimpão
Urso folgado, não tem lição.

Vem meu ursinho querido, ator preferido da minha estação.
Vou te sonhar colorido, pegando bandido na televisão.
Vamos deixar o cansaço dormir num abraço meu velho amigão.
Não fique triste e zangado se eu viro de lado e te jogo no chão.
Ah! meu ursinho palhaço, seu circo é um pedaço do meu coração.

Dança também, Pimpão
Pelo salão, Pimpão
É tão bonita, nossa canção.
Manhã já vem, Pimpão
Dorme Pimpão
Urso folgado, não tem lição."

Que bom saber que o cansaço pode dormir num abraço, meu blog amigão.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Mulher solteira procura

Janeiro. Sexta-feira. Marginal com trânsito lento. Os relógios do canteiro marcam 19 horas 57 minutos e 28 graus. Ana volta do trabalho para casa depois de uma semana de trabalho intenso. Diretora executiva, ela tem cargo e salário invejados por muitas mulheres que como ela estão na casa dos 30 e poucos anos. Garantia do bom apartamento e do carro que entre tantos apetrechos, tem no retrovisor multifunção seu preferido.
Tudo o que ela quer é chegar em casa, tomar um banho e relaxar em frente a TV revendo pela milésima vez algo como "O Diário de Bridget Jones" - filme que ela jura ser inspirado única e exclusivamente em partes de sua vida. Mas, de repente, eis que surge ao lado o príncipe encantado, montado em sua super máquina, cabelo ainda molhado, barba propositalmente por fazer e aquele sorriso irresistível. A troca de olhares é invevitável. Bendito é o trânsito já as 20 e tantas horas daquela sexta quente... e como! Não há maior sintonia do que entre os retrovisores, testemunhas das caras e bocas.
O calor aumenta, como era de se esperar. Não é mais preciso ver quanto marcam os relógios...
A boca saliva mais que o normal. Os cabelos são meticulosamente jogados de um lado para o outro, impulsionado por dedos e mãos tensos. O suor escorre pelo corpo... pernas entreabertas desapercebidamente... olhares de desejo são trocados...
Logo adiante uma placa sinalizadora traz a seta para a estratégica saída à direita, em uma ruelinha que não diz aonde vai dar. Cenário perfeito.
Ela freia mais adiante. Ele, logo atrás. A sombra de Don Juan se aproxima lentamente, acelerando ainda mais o coração de Ana que, disfarçadamente, ainda encontra tempo de retocar o batom e dar uma leve borrifada do perfume que é jogado rapidamente na bolsa semi-aberta. A sombra vai ganhando forma, cheiro... Ele se debruça na janela do carro.
Um charme... aquele sorriso... o olhar sedutor... as mãos das quais ela tanto deseja sentir o toque... Mas as mãos... uma delas está dentro do carro e passa por Ana... a outra segura algo que faz suar e tremer ainda mais. Ana agora suspira ofegante. O rapaz, com seu estonteante sorriso, parece embebedar-se com o aroma que sai do frasco de perfume, dentro da bolsa que agora vasculha.
Ainda confusa, ela só se dá conta do que acontece quando o príncipe solta um encantador: "Isto é um assalto, meu docinho!" e afasta-se com a arma ainda em punho, o dinheiro, o celular, o relógio e tudo mais que Ana até lhe daria, sem problemas, em troca de uma ardente noite de prazer.

Justificativa:
Sei que ando um tanto quanto afastada de você, meu blog. Coisas da vida. Dentro de mim há coisas lindas e boas acontecendo, mas não para serem escritas aqui.
Sinto sua falta, claro. As vezes me pego relendo e relembrando de quão boa é nossa relação. E ontem a noite, vasculhando detalhes da minha própria vida guardados entre caixas e pastas, encontrei este texto escrito em 02/03/04 como um dos exercícios do curso de teatro. E resolvi postá-lo aqui.
Eu volto, pode esperar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ela me inquieta ao mesmo tempo que alimenta

"Filha, a vida é um espetáculo e você está no palco. Isto não é um ensaio. Faça de tudo para que seja sua melhor apresentação. É sua única chance." Foi mais ou menos assim, com um jeito bem diferente deste, que é seu jeito próprio e único, que meu pai um dia me chamou a atenção para uma lição que desde a infância tenta me transmitir. Para ele, não existe meio termo. "Você tem que ser o melhor no que faz e orgulhar-se disso, mesmo que seja o melhor lixeiro", diz. E me é tão clara a escolha dele... ser o melhor ser humano.

Mas esta postagem não é sobre ele. E sim sobre a inquietante personagem que caiu no meu colo desde que aceitei dedicar-me novamente ao teatro, mais do que como platéia e não mais como estudante. Um desafio perturbador que me inquieta e alimenta minha ansiosa busca por superação. E que me fez lembrar o pensamento destacado por meu pai, com a qual abri este devaneio. Sim, porque muitos outros personagens poderão vir depois deste, mas como todos os outros, esse será único.

A identificação foi imediata. Diante do texto que me foi passado pelo grupo eu sabia que seria a responsável por dar vida àquele. Identificação que não significa escolha. Existia um deles que me colocaria na zona de conforto, seguindo esta linha do eu que encontra-se em fase tão presente, tão recheada de mim mesma, tão de olho no agora por diante...

Mas... pensando bem, quão desmotivador seria sair da coxia para me representar? Afinal, é para dar vida ao que não sou que decidi estudar teatro, subir ao palco. É nisso que vejo graça, que me encanta a atuação. Até porque, quando um autor escreve um personagem com endereço certo, desmerece o ator, acredito. Com raras exceções que são verdadeiros mimos... homenagens. Mas normalmente vejo desmérito.

O conforto nem sempre é bom... engessa...

E ainda que de forma embrionária e tímida, já comecei, no entanto, minha busca precoce diante de um texto a ser terminado, pelo corpo ao qual terei que me adequar. O pensamento, as idéias, a pouca idade... Mas volto a falar sobre isso quando estiver já mais a vontade com o personagem ao qual terei que dar vida. Eu só precisava desabafar. E me comprometer aqui com ele, em público.

Por enquanto, a relação que mantemos é imaginária. Assim sendo, sinto-me como objeto inanimado que há de ganhar movimentos quando o personagem começar a ganhar vida. Antes, porém, há um longo caminho a ser percorrido.

Nota de rodapé:
- Pai, eu jamais conseguiria reproduzir o jeito que é só seu, por mais que digam que somos muito parecidos. Por um daqueles descuidos imperdoáveis perdi aquele seu e-mail. Mas usei meu jeito para transmitir o que gravei aqui dentro, naquele espaço mágico que une meu coração à minha mente.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Cansei foi de ficar em silêncio diante dessa bandalheira

Eu até tentei repensar essa história, mas não consegui engolir esse sapo. Mais esse, não. Já estamos em silêncio há muito tempo. Inclusive eu. O que tenho feito para mudar? Nada. Mas em silêncio é que eu não ia ficar. Não mesmo. Silêncio, não!

Pelo menos aqui na redação em que trabalho quase todos concordaram comigo. Bom sinal. Não sou uma revolta solitária. Claro que a certa altura virou piada. Como tudo no Brasil. Caramba! Continuamos contribuindo com isso...

Bem, nossa manifestação inconsciente só teve início após as duas da tarde. Foi quando lembrei um dos colegas que ele mesmo havia esquecido de acompanhar o movimento "Cansei", marcado para as 13h, ao qual, disse-nos ontem, todos deveríamos nos render. Queria que ficássemos quietinhos, parados, em pé, como crianças de castigo na pré-escola. Seria trágico, não fosse cômico. Nossa redação, há 15 dias, foi transferida para uma espécie de "aquário", no centro da editora, e todos poderiam assistir nossa "atuação", se quisessem.

"Nossa, esqueci. Vou fazer agora", foi o que ele me respondeu, olhando para o relógio. Ali, em ponto estratégico, baixou a cabeça e com olhar de soslaio para o relógio passou a contar os 60 segundos unindo-se aos "Cansados da Praça da Sé". Não titubiei. Peguei o telefone e liguei para os ramais das salas ao lado pedindo atenção ao protesto solitário...

"Olhem para o protesto do (piiiiii) na redação da (piiiiii)", dizia meu interlocutor, do outro lado da linha. E se no primeiro instante todos os seus colegas de sala viravam o rosto em silêncio, na nossa direção, com aquela cara de "Oooohhhhh!", logo se percebia o burburinho gerado em cada departamento pela graça. De graça!

Agora, passadas quase duas horas do fato, olho para os mesmos que nos focaram naquele instante e vejo que cada um continua seu trabalho, sem se quer lembrar do ocorrido. Como sempre acontece, com tudo que acontece e fica no passado... e talvez não seja lembrado nem que haja pelo fato um minuto de silêncio.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ela era livre... e sabia...

É essa a sensação que tenho sempre que leio ou ouço algo sobre Madeleine Peyroux. E as reticências são para garantir a continuidade desta liberdade tão explícita, aos meus leigos olhos, nos momentos captados pelas lentes do fotógrafo Hélvio Romero que estampam o Caderno 2 do Estadão de hoje.

Imagino o que é cantar nas ruas, como a Madeleine, em Paris, ou o Edson Cordeiro, em São Paulo. Olhar as pessoas que passam e as poucas que lhe ouvem... lhe sorriem. A sensação de poder e desprezo, encantamento e desilusão. E agora, nos dois casos, diante de platéias repletas e dispostas a pagar o preço para estar ali. Vindas de várias partes do mundo...

... mas a essência não muda. Acredito que não. Amadurece, ganha nuances, mas não muda. As fotos do Estadão de hoje trazem a mulher segura que canta com um público aos seus pés. Mas também revelam a alma da menina que ainda na adolescência ganhou da mãe o companheiro inseparável de uma vida: o violão.

Agenda cheia, dinheiro farto, mimos e cuidados, opções, luxo... tudo em troca da liberdade agora vigiada. Madeleine, que no início da fama sonhou poder continuar a acompanhar seus colegas artistas de rua entre uma turnê e outra, nos intervalos de seu "show" que só estava começando... e que em seu promissor retorno, depois de pausas totalmente pessoais e intransferíveis, rende-se novamente aos compromissos e destinos agendados com tremenda antecedência... só pode ser porque nas letras, na música e na voz, é capaz de extrapolar, com doçura, sua liberdade, seu jeito de ser. "Don't wait too long" e mais nada a declarar.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

De repente, um espelho

Algumas caixas ainda estão empilhadas. "Onde eu guardei aquele sapato?", me questiono, enquanto observo os 'pacotes' que tomam 1/4 do pequeno estúdio para o qual me mudei. "Preciso dar um jeito nisso", esbravejo comigo mesma. É quando me dou conta de que, definitivamente, preciso de um espelho. É, de um espelho.

Sem tirar os olhos das caixas esqueço imediatamente o sapato. Meu foco é outro. Quero me ver, me olhar. Por um instante me encontro refletida no vidro do relógio de parede deixado no chão, aguardando sua vez de ter o próprio lugar. E mesmo enquanto espera, é importante dizer, não deixa de cumprir seu papel: tic tac, tic tac, tic tac...

Mas o reflexo está deformado, não agrada, não me serve. Recomeço uma busca desesperada na minha memória ao mesmo tempo que olho para as caixas como se tivesse a visão de raio X do bonitão Clark Kent. De repente, me lembro da caixa de maquiagem. "Perfeito!", digo em voz alta, enquanto minha mão alcança a bolsa onde foi cuidadosamente guardada a tão zelada caixa de maquiagem espelhada.

O espelho é de bom tamanho. Novo. "Se eu colocar sobre esse balcão terei bons ângulos", penso, posicionando o objeto. Pronto. Lá está ele a me olhar. Começo a observar parte de mim. Uma parte do tronco refletida enquanto estou em pé. Gosto da composição da roupa que vesti, do caimento da blusa... menos um problema para o dia que se inicia na vida de uma mulher. Então, puxo a cadeira e me sento. Em frente ao espelho. E me olho...

... me permito demorar um pouco... observar... estou cara a cara comigo.

A falta de intimidade com essa imagem, já de alguns dias, me torna um tanto quanto estranha e, consequentemente, tímida no primeiro contato. Mas aos poucos vou me soltando. Dou um sorriso e inevitavelmente reencontro aquela marca de expressão que me incomoda. Insisto... e me acostumo novamente com ela.

Minha versão Narciso vai aflorando. Meus olhos ganham novo brilho. E, novamente de repente, o silencioso diálogo que se estabelecera é interrompido pelo teimoso relógio que, mesmo esquecido no canto, instiste em trabalhar: tic tac, tic tac, tic tac... "Nossa, preciso ir."

Tiro da bolsa o batom que passo rapidamente sobre os lábios já nem tão sorridentes, olhando para o espelho sem ao menos me ver. Coloco o sapatinho básico - e para inúmeras ocasiões como essa - que está sob a escrivaninha, confiro se as luzes estão apagadas, certifico-me de que peguei tudo: documento e chave do carro, a agenda, o cheque a ser depositado... e saio. Ainda tenho que deixar uma autorização na portaria.

Entro no carro, coloco o cinto, giro a chave, engato a ré e, tão de repente quanto em todos os outros de repentes, reencontro minha imagem refletida no retrovisor. A expressão é outra, tenho pressa. A testa franzida esconde o brilho já tímido no olhar... me perdi.

Será que me esqueci trancada dentro da caixinha de maquiagem espelhada? Bem, espero que sim. Ao menos poderei tentar libertar-me assim que chegar em casa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Quem disse que toda segunda-feira tem que ser ruim?

Hoje levantei um tanto quanto animada. Há tempos uma segunda-feira não me caia tão bem. Talvez porque a noite de sono me tenha deixado mais leve, depois de um final de semana no qual levei meu corpo à exasustão. Encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar descarregar; encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar, descarregar; encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar descarregar... Ufa! Me fez lembrar meu primeiro curso de teatro, em São José do Rio Preto (interior de SP). O método era o da exaustão física. Segundo o que aprendi durante sua utilização, um corpo cansado simplesmente faz. Não apresenta resistências. Confesso que não cheguei a essa etapa. O cansaço me impediu de prosseguir.

Já no Macunaíma me dei bem com a técnica da memória emotiva, de Constantin Stanislavski. Aquela na qual você recorda como seu corpo se comporta quando está sob determinado tipo de emoção, para refazer esses movimentos. E a mim, faz mais sofrer esta etapa de busca do que o repetir, repetir e repetir dos ensaios posteriores, que tantos odeiam. É nessa repetição que sinto meu corpo apropriar-se das ações, dando-me permissão para colocar alma nas cenas. E de posse delas, meu corpo há de sentir falta quando no palco chegar a hora de repetí-las mais uma vez, diminuindo minhas chances de ficar sem ação diante da platéia.

Talvez por isso, também, tenha sentido falta de Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e os seus. Já tinha me apropriado de trazê-los à minha cama todas as noites, por uma ou duas horas, em minha incursão no Tête-à-tête, de Hazel Howley. Isso até semana passada, quando o tempo passou a faltar-me. Ontem não. A sensação era de missão cumprida. E pude levá-los novamente à cama por mais de uma hora - o que, diriam seus mais íntimos, não é privilégio de poucos, nem tampouco é sinônimo de uma noite de extremos prazeres, que não intelectuais. Não sempre, claro.

Mas encontrei alguns trechos que decidi reproduzir neste recomeço. Um deles poderia ter sido francamente escrito por mim. Mas na minha covardia sinto-me mais à vontade declarando que abaixo segue trecho da carta de Beauvoir para Algren, seu amante americano.

"... nunca foi muito fácil para mim viver, embora eu seja sempre bem feliz - talvez por querer muito ser feliz. Gosto muito de viver e odeio a idéia de morrer um dia. E aí sou gulosíssima, quero tudo da vida, quero ser mulher e homem, ter muitos amigos e ter solidão, trabalhar muito e escrever bons livros, viajar e me divertir, ser egoísta e altruísta (...) Está vendo, é difícil ter tudo o que quero. E, depois, quanto não tenho sucesso, fico louca de raiva."

Me incomodava apenas o "quero ser mulher e homem", que talvez não entrasse se fosse minha a declaração. Não sem a compreensão do trecho que segue, tirado do capítulo "A mulher independente", da consagrada obra de Beauvoir "O Segundo Sexo". Após ele, confesso, busco ser um pouco desse homem, esse tal Primeiro Sexo...

"A vantagem do homem (...) é que sua vocação como ser humano não vai contra seu destino como homem em nenhum aspecto (...) Seus sucessos sociais e espirituais lhe dão um prestígio viril. Ele não é dividido. Ao passo que se exige da mulher que, para realizar sua feminilidade, ela se torne objeto e presa, o que vale dizer que tem que renunciar a suas reinvidicãções como um sujeito soberano."

Eu passaria um dia e tantos outros escrevendo sobre isso e até discordando, em partes, de Beauvoir. Mais simples é dizer que nós, mulheres de uma geração pós década de 70 e nossa queima de sutiãs; de uma geração que busca fazer valer as declarações de Balzac; de uma geração desestabilizadora do poder soberano dos homens; ainda somos fruto de uma cultura que divide homens e mulheres e não os vê como complementares. E isso me basta para entender a "crítica" Beauvoiriana. Pelo menos por enquanto, pois sei que vou continuar a pensar nisso...

domingo, 12 de agosto de 2007

Meu pai-herói

"Sou como todos os outros pais", foi o que ele me disse, interrompendo meu discurso ao telefone. A voz era de quem sorria e sabia o que eu ia dizer. Um pai-herói. Daqueles que você não encontra no gibi.

Que saudade das histórinhas contadas com as entonações certas, a pausa para a respiração, os tons de voz compatíveis com os personagens... coisas que depois fui estudar, no teatro. E que ele aprendeu sozinho, pra me agradar.

Um dia, orgulhosa, pude falar ao Mauricio de Sousa, pessoalmente, que através da turma da Mônica o meu pai, que pouco estudo teve, me alfabetizou. Eu lia gibis, mesmo sem saber ler. Nossa enooorme coleção de gibis. Minha e dele.

Mentira. Ele não é especial só porque é meu pai. Não conheço quem não goste dele. Não conheço. Aliás, só uma coisa fez com que tivesse inimigos. Só uma. A tal da democracia. Mas não a da livre escolha. A democracia que anda amarrada à política.

Foram três eleições. O sol nem tinha nascido e lá estávamos nós, nas ruas, pedindo voto. Depois de uma noite quase em branco planejando os últimos detalhes para a decisiva manhã. Eu era criança. Bem menina. E me lembro até o número que o elegeria vereador: 14.692. E olha que minha memória nem é tão boa assim, mas eu me lembro. Defendia esse número com unhas e dentes. Defendia a dignidade do meu pai.

Que orgulho eu senti no dia que, por ser radialista, pude entrar para acompanhar de pertinho a apuração dos votos. Orgulho meu e dele. Dava pra ver nos seus olhos. Se ele tivesse perdido, não importava mais. Já tínhamos vencido. A filha que nem formada era já estava ali, entre os profissionais de imprensa, pertinho da notícia que todos os amigos - e na ocasião também os inimigos - queriam saber.

Hoje já não é mais vereador nem candidato, para alívio da família. Os que se fizeram inimigos não são mais. E voltaram a admirá-lo. As vezes ele ameaça voltar à atuante vida política, mas não sei. Acho que não.
Bem, se voltar... estarei lá.

Meu pai é daqueles que não precisa dizer para você saber, mas diz. Que sabe o momento de calar e de se colocar a postos. Que respeita as vontades, os desejos, os gostos. Meu pai foi daqueles que nunca disse não. Ou dizia sim, ou dizia: "você acha que deve fazer isso?". A decisão era minha.

Dizem que somos muito parecidos. Fisicamente e em gênio. Essas comparações de família... a Ritinha é o pai escrito, já o Betinho é a mãe. Enfim, tomara. Tomara que eu tenha herdado um pouquinho da magia que você tem, do caráter, da humildade, do amor incondicional. Tomara que eu possa ser tão amada quanto você é, pelos que te cercam.

Viver seria uma grande brincadeira, um romance, um conto de fadas, "se todos fossem no mundo iguais à você". Te amo, meu velho. Simplesmente porque você é do jeitinho que é. Te amo!

Em tempo:
Quanto mais releio minhas postagens de hoje, mais infantilizadas as percebo. Mas agora entendo. Hoje é Dia dos Pais. É dia de ser filha. E como filha, serei uma eterna criança, a eterna menina do pai.

Eu sabia... (saudades)

... que quando chegasse nessa fase do caminho seria mais demorado. Enquanto planejava a mudança, olhava para a prateleira de livros como se visse uma placa: reduza a velocidade.

E foi exatamente em meio aos livros e recortes e revistas e meus textos que me perdi. Reencontrei meus pensamentos. Reencontrei a pasta de idéias que sempre vai para o fundo do baú. Amarelada, sem vida, até que passo os olhos por uma das folhas e depois outra e depois outra e elas vão se sobrepondo, fazendo-me lembrar de quem fui. Juntando os pedaços que me trouxeram até aqui. Me transformaram em quem sou.

Uma das amareladas folhas é datada de 04/02/1997. Um década e pouco atrás, quando fiz um desabafo...

"Um dia se foi
como se nunca tivesse estado.
Simplesmente partiu.
Deixou-me a vaga lembrança
de quando ainda criança
um dia me sorriu.

No plano da realidade
fez-se de um sopro de vida
a cruel velocidade
situação de morte.

E lá estava seu corpo,
parado,
sem cor e nem mais dor.

Não sentia nem ao menos
o odor das próprias flores
que lhe depositavam ao redor
no leito agora eterno.

Seus olhos cerrados
não eram capazes de ver
as chamas das velas
que por ele acendíamos.

Talvez só tu´alma sentisse
o peso com que cada lágrima rolava em minha face
para cair ao léu
e evaporar-se
em lugar nenhum..."

(Franck, que saudade amigo. Foi tão cedo! Tanto quanto o Tom e o Alexandre. Que como você não entenderam que a velocidade pode nós levar muito rápido mesmo... e para sempre!
Saudades de vocês amigos! Eternamente...)
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Saudades também do professor Zizzo, que no primeiro ano de faculdade me encantou com sua filosofia. Não a dos livros simplesmente, com as quais hoje tenho que me contentar. Com a filosofia da vida... com a mesma simplicidade que tentei colocar no discurso que li, na missa que rezamos para a dolorosa despedida...

"O corpo padece, se vai, se destrói simultaneamente. Em segundos deixa simplesmente de pulsar, de agir, de ser, de existir.
Seu corpo se foi, de uma forma brusca. Violentamente se separou de nós, que choramos e não compreendemos nada... será difícil filosofar quando o tudo e o nada nos lembrar seu jeito de ser você... Pediremos então à Deus que conduza tua alma para a luz da eternidade..."

(Tão pouco tempo, mestre, tão pouco tempo. Mas ao lado de um mestre basta um segundo, se bem aproveitado. E quanto aproveitei da sua sabedoria. Quanto bebi dessa fonte. Aliás, jamais esquecerei seu conselho, no balcão do "Tico e Teca". Por isso estou resgatando, aqui dentro, mestre, meu raciocínio sobre a vida! Jamais esquecerei seu conselho.)

sábado, 11 de agosto de 2007

Tem dias que é preciso mudar

Lá fora está nublado. Posso ouvir uma insistente furadeira descumprindo a regra de que aos sábados só são permitidos barulhos de reformas até o meio dia. Já passa das 15h...

Eu também estou avessa às regras hoje. Tanto quanto e ao mesmo tempo mais que em outros dias. Aqui, neste condomínio, também há regras para fazer as mudanças. Dias, horários... Mas eu mudei, não posso mais esperar. Não consigo me render as regras, não quero. Estou de mudança, mas mudo em silêncio.

Tudo está sendo desligado da tomada. Neste instante só o computador me mantém conectada a esse mundo ai fora... vim aqui tomar um ar. Mas quando reentro é tanto silêncio que duvido que o mais atento vizinho imagine que estou remexendo em tudo, revirando minha mais íntima história.

Há conflitos. Mesmo que eu olhe o passado só consigo enxergar adiante. Há coisas que vão combinar com a nova decoração, outras não. Há uma ansiedade e uma angústia alucinantes e calmantes em mim.

Enquanto encho as caixas, a casa se esvazia. Há muito pó pra ser tirado. No entanto, é superficial. "Eliminável". O problema é que estou cansada. E ainda há muito trabalho pela frente...

Preciso encher as caixas e deixar a casa vazia. Preciso ir...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Aos alunos, professores e funcionários da Universidade Braz Cubas, de Mogi da Cruzes...

Quero registrar aqui meu carinho por vocês. Uma platéia tão presente como talvez nunca teria, se não tivesse aceitado o convite do amigo Zugaib para compartilhar minhas experiências com seus alunos. Valeu cada segundo. A deliciosa e enriquecedora troca, muitas vezes pelos olhares atentos... olhos que brilhavam, provavelmente voltados para o futuro. Mas lembrem-se, futuro que já começou.

Obrigada pela oportunidade, pela atenção, pelos calorosos aplausos, pelo bate-papo depois do que seria o ponto final, o tête-à-tête, e pelos e-mails e mensagens hoje recebidos...

Vamos em frente, galera. A vida é agora... sem essa de deixar para depois.

Coisas do "Corpo"

Demorei mais do que gostaria para registrar estas impressões. Aliás, tanto a demora quanto as impressões foram, digamos, coisas do "corpo". Uma, a demora, coisa do corpo cansado, entregue as tarefas do dia-a-dia. Outra, as impressões, coisa do corpo que traz para a alma a presença de corpos expostos, em cena, destinados à arte. Falo do espetáculo do Grupo Corpo que assisti na segunda-feira (06/08). Dois atos, inúmeras reflexões, uma certeza: encantadores!

No primeiro, "Sete ou oito peças para um ballet", uma reapresentação de 1994. Cores em ritmos mais leves, suaves... E como me é comum e necessário, quando estou diante de um palco busco a essência, a história, ainda que as minhas próprias essência e história. Ali, entre movimentos que se repetiam em cada corpo, mas cada qual a seu tempo, com seus ritmos e formas, de repente uma coreografia que se desprendia do todo. Um ballet solitário entre os membros do mesmo grupo que continuavam a dança cadenciada. E aquela solidão crescia, ganhava alma, luz própria... foi quando percebi quão importante é que alguém se destoe, vez ou outra, quando tudo está muito igual. Mesmo que mais tarde as coisas se pareçam novamente como antes. Mesmo que, na verdade, não sejam mais como antes.

Intervalo.
Tínhamos pouco tempo - 20 minutos - enquanto os demais disputavam os banheiros e as últimas taças. E nós só queríamos colocar a conversa em dia. Afinal, nossos últimos bate-papos, sem voz, entre letras e ícones do messenger, se resumiam a trabalho, trabalho, trabalho. E ali, na platéia, com as luzes nem tão acesas, nem tão apagadas, ainda envolvidas pela poesia a que acabávamos de ser expostas, só queríamos falar de nossas próprias vidas. Experiências complementares vividas de formas tão diferentes e peculiares. Uma conversa interrompida pelo aviso de que o espetáculo ia recomeçar.

No segundo ato, o nova criação do grupo: "Breu". A beleza do contraste entre o preto e o branco. Aliás, ali percebi que nem sempre as cores são mais belas que o contraste entre o preto e o branco. A boa composição de brilho e fosco dos tecidos. O ritmo alucinado das grandes cidades e seus encontros e desencontros muitas vezes cantados ou escritos, de repente ali, dançados, coreografados... como tirar os olhos do palco? A angústia do estar e do ser a dois, em grupo, ou só... cenas lindas e perturbadoras... talvez porque eu as visse como reflexo do que anda aqui, bem dentro de mim.

E aquela trilha... este CD Breu que estou ouvindo agora... Pode ouvir? Que pena.
E naquele começo, bem quando os artistas voltam ao palco, Lenine brincou com os sons com o mesmo gosto com que Cibelle brinca em "The Shire of Dried Electric Leaves"... e acabou brincando comigo.

Os movimentos já nem pareciam respeitar os ritmos. Havia harmonia, no entanto. E eu, ali, entregue às minhas sensações, tão estática por fora quanto me sentia agitada por dentro.

Ficha técnica (para os aplausos finais):
Grupo Corpo
"Sete ou oito peças para um baile" (1994)
coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: Philip Glass / UAKTI
figurino: Freusa Zechmeister
cenografia: Fernando Velloso
iluminação: Paulo Pederneiras

"Breu" (2007)
coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: Lenine
figurino: Freusa Zechmeister
cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras

domingo, 5 de agosto de 2007

Sabe da última?

O frio voltou a rondar São Paulo neste domingo. Um convite para devorar livros e revistas embaixo das cobertas, até que o sono venha. Mas quando passei os olhos pela reportagem de Rosana Zakabi na revista Veja: "Psiu! Ouviu essa?", que afirma que "os homens fofocam tanto quanto as mulheres, o que muda é o conteúdo de suas maldades", não resisti e vim direto para o computador. Mais ou menos como quando você fica sabendo da bronca que seu superior insuportável tomou do chefe, ou do fora que o bonitão da turma levou da "mina que estava no papo"... Em algumas dessas vezes, pode confessar, você não resiste e bota a boca no trombone, doa a quem doer.

Pois é. E eu vim contar que nós mulheres já sabíamos do que o Social Issues Research Centre, de Londres, só conseguiu provar depois de fazer mil entrevistas. Homem é fofoqueiro sim. Claro que, como no caso das mulheres, não dá para generalizar. Mas que fofoca não é coisa só de menina, isso não é mesmo.

Mulheres de plantão, querem fazer um teste e atrair a atenção dos homens que estão ao seu redor? Comecem a cochichar com uma amiga - ou um grupo delas - e soltar uns risinhos de vez em quando, com aquele olhar desconfiado de quem sonda se não está sendo ouvida. Mas finja que não percebeu que eles estão por perto. É batata. Os mais discretos vão quase quebrar o pescoço na tentativa de ouvir ao menos uma palavrinha do diálogo. Os mais desesperados não vão se conter e soltarão a famosa "do que vocês estão falando?". Ao que, se for essa semana, você pode responder: "leia na página 104 da revista Veja."

Queria também deixar um alerta sobre a afirmação do sociólogo da Northeastern University (Boston), Jack Levin, que aponta a fofoca como instrumento poderoso para entender o ambiente em que se vive e adaptar-se à ele. "Num escritório, por exemplo, é através das conversas no cafezinho que o novo funcionário fica sabendo como é o clima no local, em quem se pode confiar, como é a política de promoções, se a moça atraente da mesa ao lado é comprometida, e assim por diante.", diz ele. Ok. Mas é importante que haja coerência nas interpretações. Toda fofoca pode estar recheada de intrigas mais sérias, totalmente pessoais e intransferíveis. Nesse caso, "o buraco passa a ser mais embaixo". Se a opção for mesmo nortear-se pelas fofocas para escolher em quem confiar, tente tomar cafezinhos com o máximo de pessoas e estar bem atento. Ou você corre o risco de ouvir só um lado da história, que pode ser justamente o da ficção. Como em tudo na vida, neste caso também é preciso separar o joio do trigo.

sábado, 4 de agosto de 2007

"Paris sous l´Occupation" (Jean-Paul Sartre)

Prometi que escreveria sobre Tête-à-tête, o livro que tem me mantido em companhia de Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e todos os que circundaram suas vidas. Aliás, o meio gosto que tenho pela leitura é individual, solitário. A outra metade, até egocêntrica, é o poder de compartilhar impressões, sensações e de fazer comparações.

Sobre o casal que dá vida à obra de Hazel Howley tenho muito e quase nada a dizer. A impressão é de que passaram a vida ensaiando o melhor jeito para que pudessem ter suas histórias contadas depois. Hazel concorda em partes com isso. O que não quer dizer que Beauvoir e Sartre não tenham vivido intensamente. Horas demais e horas de menos, ouso afirmar. Mas tudo é uma questão de ponto de vista.

No entanto, na vida, algo me chama a atenção ao mesmo tempo que me incomoda, aflige e afugenta. A "liberdade" vigiada e limitada. E vejo a guerra como a interpretação escancarada da impotência diante de um poder alheio. Ressalto, no entanto, que as batalhas interiores pelas quais passam os humanos mais ainda me amedrontam. Principalmente porque, na maioria das vezes, o alheio é o próprio eu. E o campo de batalha, ah, desse não há como fugir.

E é por isso que me chamou a atenção a maneira pela qual Beauvoir e Sartre olham para a "Paris sob a Ocupação" dos anos 40. Antes descrentes de que a guerra chegaria até eles - e muitas vezes, mesmo no "campo de batalha", Sartre parece estar ausente da situação, protegido por sua filosofia - agora os dois precisam deixar de lado suas incessantes buscas pela melhor interpretação das próprias vidas para simplesmente retratar o cenário que tinham ao redor. Sartre, que vivia à espreita de um novo olhar sobre as relações, agora precisa resgatar a França. E seus textos, ao mesmo tempo que mantém resquícios da muitas vezes abstrata filosofia, agora ganham corpo de retrato de uma página da história sob o olhar de quem estava lá.

"Perto da meia-noite, ouviam-se os retardatários correndo na rua para chegar em casa antes do toque de recolher, e depois reinava o silêncio. E sabíamos que os únicos passos ouvidos lá fora eram os deles. É difícil transmitir a impressão que essa cidade deserta podia dar, essa terra de ninguém colada em nossas janelas e que só eles habitavam. As casas nunca eram exatamente uma proteção. A Gestapo fazia com frequência suas prisões entre meia-noite e cinco da manhã. A cada momento, parecia que a porta podia ser aberta, deixando entrar uma rajada de ar frio, um pedaço de noite e três alemães afáveis com revólveres. Mesmo quando não falávamos sobre eles, mesmo quando não pensávamos neles, sua presença estava entre nós."
("Paris sous l´Occupation", de Jean-Paul Sartre)

"Era um mundo devastado", diz Beauvoir. "Nenhuma folha de grama em nenhum prado, por mais que eu olhasse, jamais voltaria a ser o que era."
(Simone de Beauvoir, em declarações posteriores, sobre quando Paris foi "libertada" e Londres recebia seus "primeiros mísseis balísticos de longo alcance")

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

"O príncipe encantado quase nunca chega."

"Foi assim que aquela mãe ensinou o que talvez a filha levasse a vida inteira para aprender. Ou nunca aprendesse... A menina, vestida de princesa, chorava copiosamente porque seu par na peça de teatro da escola não havia chegado. O tal príncipe encantado..."

Mas este foi apenas um dos assuntos em pauta naquela mesa. Éramos quatro mulheres. Quatro amigas totalmente diferentes que um dia se conheceram e reconheceram no mesmo curso de teatro. Àquela altura, eu era o "sapo de fora"... Elas se reencontravam quase sempre, eu há tempos não as via. Foi uma festa. Quatro mulheres em um bar. Quatro copos. E muita história para contar. Em poucos minutos já estávamos próximas de novo. E percebemos que ainda falávamos a mesma língua. Havia presença.

Eu queria revê-las. Mas também tinha uma proposta: elas poderiam me ajudar a resgatar um sonho adormecido. E aconteceu. Éramos quatro mulheres para três papéis. E eu era o "sapo de fora". A última da fila... ao menos pensei que fosse. Mas uma delas disse: "no palco, não". Foi quando eu sorri e disse "SIM".

Foi mais que um sim à personagem, que ainda nem bem sei quem é. Foi um sim para a proposta que eu mesma faria. A de um resgate.

Filosofia, sociologia e terapia rolaram soltas na mesa. Naquela mesma mesa onde deixamos nossas frustrações e fantasmas de um curso de teatro com seus altos e baixos. Suas soluções e problemas. E onde resgatamos nossas almas intrigadas e sedentas que, neste ponto, são quase idênticas, preservando as diferenças. Ali, naquela mesa, falamos e ouvimos. Choramos e sorrimos. Havia um pacto entre nós. O de sermos livres, apesar dos compromissos.

Foi o melhor dos encontros. Até que venham os próximos.

O próximo, aliás, tem data marcada. É o chá de espera do Bernardo. Que, se for esperto, vai aproveitar a oportunidade de participar de encontro tão íntimo entre mulheres, ainda que no ventre da mãe, para especializar-se na alma feminina.

E que venham os próximos... e que nunca chegue a "saidera"...

Em tempo:
Na vida real o texto de ontem foi editado. Com novo desfecho. Pensei em corrigí-lo, mas não faria sentido. Naquele momento aquela era a realidade... e ele estava correto.
Giu, Gê, falar com vocês tranquilizou meu coração. Me fez sentir que estão encarando as coisas como tem que ser. Se precisarem é só chamar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Quando um avô decide ser bisavô

Talvez quem passasse pela sala da casa dos meus pais naquele dia, há pouco mais de um ano, não se desse conta da seriedade da nossa conversa. Até porque tinha leveza e respeito, que sempre nortearam meus bate-papos com meu avô. Na verdade com os dois, paterno e materno, mas conto agora um causo do pai da minha mãe.

Sentados, quase lado a lado, no sofá, ele me olhou nos olhos e disse que eu já tinha idade para lhe dar um bisneto. Eu sorri, no primeiro momento. Estava já me acostumando as cobranças. Sou a neta mais velha. Nasci 2,5 meses antes do primo homem mais velho. Depois vieram mais três primos, meu irmão, e só então duas meninas. Para fechar, a "rapinha do taxo", hoje um lindo moço mais alto do que eu.

Mas meu avô voltou a me encarar e sorriu. Seu sorriso era de "porque não?". Expliquei que não me sentia pronta. Que tinha outras ambições e que um filho me tiraria a liberdade. Não se eu estivesse mais perto, deve ter pensado. Porque no fundo nunca compreendeu porque eu escolhi estar longe de toda a família que mora ali, tão junto e tão perto. Porque tenho que deixar tanta saudade e preocupação quando volto para casa, a 450 quilômetros de distância deles?

"Vô, fica tranquilo. Quando chegar a hora você vai ser bisavô. Eu tenho certeza", eu lhe disse, quase interrompida por meu pai que emendou: "É Durigan. Desse mato não sai cachorro". Foi mais ou menos quando minha mãe também entrou na prosa. "Se depender dos seus netos a família termina aqui". Rimos um pouco, ele ficou pensativo, e todos voltamos para nossa "vidinha réia", como diria em sua sabedoria.

Final de fevereiro de 2007. Primeiro o susto, depois a alegria. Uma de minhas primas seria mãe. A família de adultos, enfim, teria uma criança. Meu avô vibrou. E levou as alianças ao altar no dia do casamento. Ele, não chorou. Se o fez ninguém percebeu. Choramos nós, ao vê-lo impecável naquele terno. Tão lindo! Sua pele tão branca e lisa. Seus olhos tão azuis. E a serenidade de quem tem toda uma história para contar.

Agora estávamos todos na expectativa. Bianca nasce em setembro. Nossa princesinha!

Mas ontem, enquanto eu almoçava, o recado de que meu irmão precisava falar comigo urgente me trouxe rápido à redação. O celular tocava insistentemente. Atendi. "Bia, já está na redação?" Respondi que sim. Mal desliguei o celular e já o atendi em meu ramal. E o celular voltou a tocar, era meu pai. Eu ali, com as duas linhas, to-tal-men-te ignorada. Os dois discutiam aos risos, mas entre si: "Pára pai. Não vai contar. Eu liguei primeiro". E meu pai, sempre tão brincalhão, resmungava do outro lado. Até que me irritei - claro que no mesmo clima de brincadeira: "O que está acontecendo, vocês não vão falar comigo?". "Tá bom, vou desligar Preta. O Bi te conta", disse meu pai, com voz radiante. Meu pai sempre fez assim. Nos instigava, mas deixava o gostinho da vitória para nós dois, meu irmão e eu.

"Bia, vamos ter mais criança na família". Por um instante pensei que estivesse falando com o futuro papai... mas a voz muito tranquila de minha mãe ao fundo: "Manda ela adivinhar de quem é..." colocou a hipótese fora de questão.

Mas eu acertei. Era do Giu e da Gê. Sai contando pra todo mundo do meu trabalho que seria tia de novo. É, tia. Filho de primo-irmão é sobrinho, não é? Melhor que seja porque eu e meu irmão já avisamos lá em casa que é melhor nossos pais curtirem bem o título tios-avôs...

Falei com meu primo, o futuro papai, e com minha madrinha, que agora seria avó. E foi ela quem me entregou o ouro. "O vô Durigan está numa alegria só!". Foi então que me lembrei da nossa conversa no sofá. Naquele momento em que eu lhe disse "... fica tranquilo. Quando chegar a hora você vai ser bisavô..." ele deve ter decidido. E não é que deu certo? Parece que vejo seu rosto, agora. Aquele sorriso maroto. Aqueles olhos azuis. E os pensamentos com o sotaque italiano herdado dos pais, já que nunca estivera fora do Brasil... "eles pensaram que eu não seria bisa...".

É, meu vô. Agora você é bi-bisavô. Parabéns!
A propósito, agora estou liberada, né? Então fui. Que a vida está acontecendo e não quero me atrasar.
Um beijo bem grande no seu coração, meu lindo avô de olhos azuis.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Morreu sentado, aos 94 anos, o poeta do tédio...

Não quero tornar motivo de piada uma morte, mesmo que tão tranquila, após 94 anos de espera. Sim, porque acho que a morte espera toda uma vida para dela nos tirar. Você não acha? Tá. Vai me dizer que não concorda também que pessoas como o cineasta Michelangelo Antonioni são aguardadas em festa no céu? Ou como seu Antônio, o baiano que, além das histórias contadas e escritas por sua filha, minha amiga, só fui conhecer no dia do próprio velório. Amiga mesmo, pode perguntar. E de tamanha proximidade que não tenho dúvidas: seu Antônio deve estar se divertindo por ser lembrado agora. Não pelo velório, mas por suas estrepolias em vida que me vieram a mente como se as crônicas escritas pela filha tivessem virado filme.

Imagino seu Antônio, o baiano, recebendo Antonioni, o italiano, no céu. "Oi, sou seu Antônio! Tenho uma filha jornalista, gostava dos seus filmes...". E vai render conversa até que o tédio se renda...

Mas como eu ia dizendo, o poeta do tédio que retratava as angústias individuais e a incomunicabilidade nos relacionamentos, morreu sentado, aos 94 anos, ao lado da esposa Enrica Fico. Será que estavam em silêncio profundo no exato momento? Trocaram olhares? Havia comunicabilidade entre os amantes na hora derradeira?

Se não estivéssemos nos adaptando as mudanças até físicas pelas quais passamos esses dias, na redação onde trabalho, com certeza alguém teria feito um comentário, algo assim: "Será que na hora da morte eles fizeram uma combinação como: Antonioni disse 'então eu vou', e teve como resposta de Enrica: 'Fico!' ? De imediato, o olhar atento e curioso de meu chefe se voltaria com desdém em minha direção, mesmo que a fala não fosse minha. "Ah não. Uma 'ritaelisiana' dessas e nem é sexta-feira ainda". Mas depois, sairia pela empresa, de sala em sala, repetindo a brincadeira com um sorriso no rosto de quem, ao fundo, achou boa a piada. Tédio? Que nada.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Galinha triste não põe ovos"

Quando essa brincadeira de blog começou eu queria fugir totalmente de tudo que me lembrasse trabalho. Era para ser como o meu irresponsável "diário verde", citado em "É chegada a hora...". Mas diante deste apetitoso exercício de parar alguns minutos para pensar no que escrever sobre meu dia, ou noite, e de que forma contar o(s) fato(s), sem compromissos ou regras, tenho me dado conta de quanto minha vida se alimenta do meu trabalho e vice-versa. "Você está virando uma workaholic incondicional", diriam, ou melhor, repetiriam alguns. "Pára de trabalhar e vamos aproveitar a festa, Rita", está gravado em uma das fitas da cobertura do festival de Cannes deste ano, com voz e rosto de um publicitário que virou amigo. Ok, galera! Tenho pensado no assunto. Mas não é disso que estou tratando agora.

Me dei conta de que este trabalho me permite conhecer, conversar, questionar e extrair o máximo de pessoas tão diversas quanto interessantes. Confesso que nem todas o são. Nestes casos faço o essencial. Mas tenho dado sorte. Encontrado pessoas que me fazem acreditar que o "amanhã melhor" está começando.

Afirmações tão simples como o título deste texto merecem ser repetidas. Não apenas porque saíram da boca de um bem-sucedido executivo. Mas porque as pessoas da empresa que ele comanda refletem, em sua maioria, a felicidade e tranquilidade em busca das quais se diz ocupar. E olha que lá eles também trabalham com deadlines e afins. Eu sei. Não é novidade pregar a satisfação como a "galinha dos ovos de ouro". Mas este é o exemplo mais recente que tenho. Por ter estado lá, vários dias, em horários diferentes e papeando com pessoas diferentes. Não acho que conseguiriam "manter a personagem encomendada pelo chefe" enquanto essa jornalista passeia entre uma sala e outra, sem avisar se está de chegada ou partida... Me soou sincero. Mais que isso, me pareceu real.

Vou ficando por aqui. Afinal, não me leve a mal mas ainda tenho "ovos para botar".

Tête-à-Tête

Os letreiros dos relógios ao longo da avenida se revezavam entre os 8ºC e as horas que se iam pelas 19h e seus minutos. O filme que eu e minha amiga queríamos ver já havia começado quando atingimos o abrigo quente e, digamos, bem "habitado", do HSBC Belas Artes... Cheiro do Ralo. Escolha precedida de curiosidade e incentivada por questões de trabalho, neste caso não menos prazerosas: Heitor Dhalia, o diretor do filme e da O2, é um dos entrevistados dela para a próxima edição da revista Propaganda, na qual nós duas trabalhamos. Mesmo diante disso, decidimos que trabalho seria conversa para a manhã do dia seguinte, a segunda-feira. Motivo, aliás, para desistirmos de esperar a sessão das 21h30.

Já diante da ansiedade da balconista, que nos serviria provavelmente um chá para que não fosse em vão nossa ida ao cinema, decidimos que o cremoso chocolate quente da livraria Cultura, no Conjunto Nacional, encerraria melhor nosso domingo. Mãos nos bolsos e corpos encolhidos para minimizar os efeitos do frio, lá fomos nós, caminhando pela avenida Paulista...

Disputávamos cada minuto em silêncio para falar ou para ouvir, cada uma a sua vez, do seu jeito. É mais ou menos assim que acontece entre a gente. E é assim que o assunto nunca tem ponto final. Algum dia, em algum lugar, vamos retomar a partir daquela vírgula ou reticências deixadas para trás porque algo mais curioso nos saltou à vista. Ou quem sabe revelar aquele segredo que só uma amiga de verdade é capaz de compreender que foi importante tê-lo mantido no mais absoluto sigilo.

Do tradicional chocolate já tinham bebido o último gole. Fui de submarino - bebida tão saborosa e quente quanto. E ali permanecemos discursando e discutindo e discordando e concordando sobre nossas vidas e relações, até que o som ambiente foi invadido por uma voz capaz de anunciar que nós duas - e toda a multidão que estava ao nosso redor - tínhamos 5 minutos para "evacuar a área" (não tão sério assim, óbvio).

Voltamos pela encantadora Paulista, cenário de meus sonhos de menina do interior que queria morar na capital só para poder andar assim, sem hora para voltar para casa, por aquela avenida que agora era toda minha.

Nos despedimos... mas até isso é muito difícil. Há delongas por um assunto pendente. Até que aquele garoto se aproximou e, com um simples olhar, percebemos que era hora de ir embora. Foi assim que nos despedimos, sem dizer ao menos uma palavra.

De um salto entrei e liguei o carro, mas o menino só queria dar sinal ao ônibus que, só depois, avistei no retrovisor. Agora era chegar em casa, tomar um banho quente e me entregar ao desejado livro ao qual não mais resisti, depois de meses de paquera naquela mesma prateleira da Fnac, onde eu e minha amiga nos encontramos horas antes. O livro? Tête-à-Tête. Li algumas dezenas de páginas antes de adormecer, suficiente para perceber que Hazel Rowley há de me proporcionar agradáveis momentos nas próximas noites frias, com sua obra e seus ilustres personagens: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.

Depois eu conto.

sábado, 28 de julho de 2007

Prece à plebe

Muito frio por aqui. Os dedos doem ao tocar o teclado. Mas não quero deixar em branco este espaço, com a lacuna de um dia. Não hoje. Então, vasculhei um dos meus devaneios passados, como farei vez ou outra, para postar aqui. E resgatar minha voz que gritou em silêncio nos rascunhos de outrora...
Ai vai...


"Dai-me mundo plebeu os sonhos dos ricos,
para que ao menos eu possa sonhar
enquanto eles riem e cospem seus sonhos
no mármore lapidado pelos meus
sob o qual pisam os sapatos
que os meus moldaram
e não herdaram.

Deixai ir a eles meu silêncio
porque os gritos já não alcançam
a surdez
dos que se escondem na pequenez
da alma.

Ouve-se mais minha guerra sem gritos,
sem tiros, gemidos.
Mais do que as tropas alemãs
e que o jazz erudito
ou o coro das igrejas
que mereja ouro
nas paredes onde o culto
joga a população ao oculto."
(escrito em 06/04/2000)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ela sorria sim...

A manhã era fria. Já quase dez horas e o sol muito tímido não parecia suficientemente disposto a aquecer. Eu estava com o ar quente do carro ligado e bem agasalhada. Apressada, difícil não estar. Mas ao longe vi aquela garotinha correndo com sua trança e seu sobretudo bordô. Era de bons corte e tecido. Reduzi drasticamente a velocidade, incomodando a fila que se formava atrás de mim.

A garota? Uns quatro ou cinco anos, no máximo. Nos pés um sapatinho preto e a meia branca que não cobria toda a panturrilha, exposta ao vento frio e gelado. Mas ela parecia não se importar. Pensei no cobertor que deixei na minha cama quentinha antes de sair de casa.

Só o cabelo castanho claro, descuidadamente preso em uma trança, dava sinais de que a garota não era a herdeira de um daqueles carrões estacionados por ali, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. E sim da mendiga sentada uns 100 metros adiante.

Quando virou-se em minha direção, mesmo sem me ver, a menina chamou ainda mais minha atenção. Ela estava distraída com o senhor que, provavelmente tão encantado e assustado quanto eu, tirava do bolso bons trocados para recompensar aquele sorriso e aquela beleza. Ela sorria sim. Não para mim. Mas retribui o sorriso mesmo assim. Seus olhinhos eram amêndoas que brilhavam de felizes. Talvez porque sentisse frio... talvez porque tivesse um sobretudo bordô.

Um sorriso encantandor. Pintura que ganhava vida sorrateiramente enquanto os carros passavam, indiferentes, nas Alamedas, e as pessoas desfilavam suas grifes nas calçadas dos Jardins. Um anjo que sabe-se lá onde vai dormir nesta noite tão mais fria que a manhã que já passou... e com quem.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sou católica, pero no mucho!

"Ah, católico todo mundo diz que é. Mas você frequenta missas aos domingos, por exemplo?", questionou um incrédulo colega de trabalho, certa vez. "Frequento", respondi, para espanto de meu interlocutor. No entanto, diante da afirmação de nosso Ilustríssimo Sr. Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva - "Eu entrego minha sorte a Deus", referindo-se a quando entra em um avião - percebi que de nada adianta frequentar missa aos domingos se não tenho tamanha fé.

É isso, povo brasileiro. O segredo da sobrevivência - e com sucesso, diga-se de passagem - é ter fé. Dizem que cada povo tem o governante que merece... e que Deus é brasileiro. Só pode ser. Tá explicado. E não só é brasileiro como é petista. Aliás, alguém viu onde foi parar a estrela vermelha do peito do Cristo Redentor? Justo agora que está no foco como uma das 7 novas maravilhas do mundo... será que passaram a mão?

Se você encontrar, favor devolver. Faça como o presidente do Brasil: entregue para Deus.

Por falar em Trem da Alegria, alguém ai sabe onde anda o Juninho Bill? Aquele garotinho sardento que queria ser o presidente do Brasil?

Enquanto você procura eu vou pra casa tirar um cochilo.
Boa noite! E tenha fé... amanhã é um novo dia.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

O que você faria?

O que você faria se acordasse pela manhã, para mais um dia de trabalho, e não reconhecesse seu corpo, sua voz... nem mais soubesse como se levantar da cama, aquela velha companheira que por anos a fio você simplesmente deu as costas sem nem ao menos dizer "até mais!"? Qualquer semelhança com "A Metamorfose", de Kafka, não é mera coincidência.

De início parece situação temerosa. Um desastre! Mas será? Deixemos a literatura de lado - e Kafka há de nos perdoar porque ele mesmo era avesso à tudo que não fosse a própria literatura, incluindo comentários sobre ela.

Você já se perguntou se é o que gostaria de ser? Se tem feito o que te faz bem? Qual o motivo de tamanha rejeição às mudanças? Ontem escrevi sobre o creme de papaia com cassis. Porque será que já nem me lembrava mais da última vez que saboreei a sobremesa que tanto me apetece?

Não sei. Dieta? Mas e os chocolates e sorvetes?!? Falta de opção? Não cola. Está sempre ali, em algum cantinho do cardápio: "Creme de Papaia com Cassis", normalmente seguido da descrição: "Delicioso creme de sorvete batido com mamão papaia coberto com licor de cassis". Só de pensar me enche a boca d`água...

Como não tenho a resposta, vou parar por aqui. Até porque ando avessa à auto-ajuda desmedida que se prega por ai. E esse texto caminha para isso. Bate na madeira 3 vezes e isola.

Mas eu acho que se você acordar amanhã e reconhecer seu próprio corpo, sua voz... tiver controle de seus movimentos... ainda dá tempo. Pense naquela sobremesa que você tanto gosta e há tanto não come. Se é tão bom, te dá prazer, porque não provar de novo? Só tenha parcimônia. Tudo que é demais sobra.

Bon apetit!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Papaia com Cassis

Hoje não me bastaria fechar jornais e revistas ou desligar rádios e TVs para esquecer do desastre da TAM. Precisaria fechar os olhos, literalmente. Mas quando o táxi entrou na Washington Luiz e se aproximou do aeroporto, nem ao menos pisquei. A cabeça girava da esquerda para a direita e para a esquerda e para a direita enquanto eu tentava entender o que poderia ter ocorrido naquele curto espaço entre o barranco do aeroporto, tão ali, perto da avenida, e o prédio no qual o avião se chocou.

O táxi já ia longe e eu me lembro apenas de estar olhando para trás enquanto o taxista balbuciava algo que nem sei o que. E aquele cenário foi ficando distante, até que o perdi de vista.

Lembrei que tenho uma passagem da TAM com data em aberto para o interior de São Paulo, onde moram meus pais. Pensei na dor dos familiares... uma dor sem cura. "Mas eles nem sentiram dor", foi mais ou menos o que disse o taxista nesta hora. Quando consegui concatenar as idéias, percebi que ele se referia às vítimas mortas, não às vivas nas quais eu pensava.

A rádio noticiava que novas áreas para a construção de um aeroporto estavam sendo analisadas em São Paulo. "Deviam fazer em Santos, no mar. Como no Japão. Meu filho mora lá. Ele disse que é bom e não tem perigo", disse o orgulhoso taxista. Ufa! O foco foi de Congonhas ao Japão em poucas palavras. Aliviada, decidi fechar os olhos para o que ficara para trás e embarcar com o desconhecido em suas experiências familiares no oriente.

Cheguei à Churrascaria Rodeio quando, em pé, Washington Olivetto já discursava sobre sua anunciada aposentadoria daqui a 9 anos... seus sucessores na presidência da W/...

O dia frio e chuvoso continuou agitado. Entrevistas, reencontros com colegas que não via desde Cannes ou de outros eventos tão importantes capazes de reunir, como ali, a grande imprensa... e para fechar com chave de ouro um delicioso creme de papaia com cassis. Sobremesa que está entre as minhas preferidas, mas que, por algum motivo, há tempos eu não comia.

E a vida continua.
Pelo menos para nós que não estávamos há uma semana no Airbus A320 da TAM, vindo de Porto Alegre, nem naquele prédio da mesma cia aérea.

Sugestão de rodapé:
Caros governantes, talvez nos ajudem a esquecer ainda mais rápido as mazelas do nosso país se incluirem creme de papaia com cassis nas cestas básicas e merendas escolares.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Teatro ou realidade?

Segunda-feira, 6h30 da "madrugada". Rodízio do meu carro. Chovia e eu não via muito além do parabrisa. De repente uma daquelas sombras negras - parece que todos os motoqueiros hoje usavam uma capa preta para se proteger da chuva torrencial - estava tão rente ao meu carro que me assustou. Mas logo se misturou às tantas outras manchas negras, garantindo-me a sensação de alívio. Não, não era um assalto. Só então me dei conta de que no caminho de casa até ali, uns 5 km percorridos, não pensei em outra coisa a não ser em o que escrever aqui.

"Pronto, vou escrever sobre os motoqueiros no trânsito de São Paulo... não, muito batido. Ah, mas tem o gancho daquele projeto do artista espanhol que deu câmeras para que alguns deles registrassem seu cotidiano..." O fato é que 2 km a frente estacionei na editora onde trabalho sem chegar a conclusão alguma. Pensei até que poderia comparar o motoqueiro que me fez voltar à realidade do trânsito com chuva, à um recurso da técnica do distanciamento, de Bertolt Brecht. Para quem não conhece, é a técnica usada no teatro para que o espectador seja um "crítico-social", lembrando a platéia que o que ela vê é encenação e não realidade. Mas meus pensamentos eram reais. O trânsito, a chuva... o motoqueiro... tudo era real. Calma, mudei de idéia.

Em minha mesa, escrevendo para a revista na qual trabalho, me comportei até que um amigo e colega de redação entrasse na sala. Desembestei a falar que ele tinha de ter um blog, que era jornalista...blá blá blá... Ops, ato falho. Eu? Que odiava que me cobrassem isso??? Hum, preocupante. Mas ele logo me convenceu de que tinha textos demais pra escrever para a revista, sem ter um blog. E me lembrou que eu também, com o agravante de ter meu blog.

Li e-mails, falei ao telefone, ao messenger, voltei ao trânsito para uma reunião. Mas dessa vez não tive a chance de devanear. Não tanto. O taxista não deixava. Queria me contar de tudo um pouco. Da "viagem ao redor do mundo" por Parati e Trindade, no Rio de Janeiro, e São Sebastião e Maresias em São Paulo. "Conhece menina?", perguntava. "Não, não conheço", respondi umas vezes. "Lá eu conheço sim", em outras. Silêncio... "E a tal da Paula (sic), menina. Você viu? A bandeirinha que anulou o gol do Corinthians? Parece que vai sair pelada na revista.", comentou ele. "Já saiu", respondi. "É mesmo, olha só. Tá ganhando dinheiro, hein", insistia.. "É", disse, quando me lembrei que ainda hoje teria de passar no banco. E a conversa se estendeu até o meu destino.

Reunião encerrada, hora de voltar para a redação. O segundo taxista me deixou escolher a rádio. Quer dizer, exigiu que eu escolhesse. Mas era uma "gentileza da casa". Pelo menos me deixou ouvir a rádio. Acho até que em certo momento se arrependeu de tamanha liberdade. Foi quando me olhou pelo retrovisor e eu me dei conta de que estava cantando, em médio e bom som, junto com o falecido Renato Russo. O que fazer em uma hora dessas? O que a Marta Suplicy aconselharia? Resolvi relaxar e... bom, continuar cantando (mais baixo, claro).

Voltei pra redação e continuei o trabalho, os bate-papos, os telefonemas, as reuniões, os e-mails... de repente um deles me chamou a atenção. A manchete do Adnews: "Mídia fará 1 minuto de silêncio em prol de tragédia aérea". "Caramba! Mídia em silêncio pra protestar? Isso não vai contra os princípios da imprensa?", pensei. Ai me lembrei das tantas vezes que fechei jornais e revistas nos últimos dias, ou passei direto por uma TV ligada, para fugir dessa insana busca midiática por mais sofrimento nesse trágico, porém "previsível", acidente da TAM. Claro que a dor dos vitimados importa. Mas à imprensa caberia mais cuidar para que se evitassem novas vítimas, quando esse acidente não for mais a bola da vez. Pronto, lá estava de novo o fantasma do Brecht e seu distanciamento a me assombrar. Mas agora que eu não sabia mesmo o que era teatro e o que era realidade.

domingo, 22 de julho de 2007

Paris nas telonas de São Paulo

Ontem assisti ao último - eu acho - dos três filmes em cartaz em São Paulo que se passam em Paris: "Paris, Te Amo". Os outros dois foram "Ratatouille" e "Medos Privados em Lugares Públicos". Recomendo os três.

Eu, que há menos de um mês estava na Cidade Luz, tive bons motivos para olhar para a telona e suspirar. Ah, Paris... Mas meus suspiros não eram solitários. Vários colegas de salas, cada um à sua maneira e com suas lembranças ou sonhos, reverenciavam as imagens e histórias que mostravam que Paris é mesmo tudo de bom.

"Ratatouille", a história do ratinho Remy que sonha em se tornar um cozinheiro famoso em Paris e se une ao orfão Linguini, encanta também pela animação. As cores, formas e personagens nos despem dos preconceitos de gente grande e nos permitem mergulhar na história feito crianças. Aliás, nesta sessão, as risadas sobressaíam-se aos suspiros - que ainda assim eram percebidos pelos ouvidos mais atentos. A moral da história também vale - e muito - para nossa sociedade imediatista que acaba por exigir que abandonemos nossos sonhos para podermos cumprir com afinco nossas tarefas.

"Medos Privados em Lugares Públicos", de Alain Resnais, aborda as relações humanas e seus conflitos. Que atire a primeira pedra quem nunca se encontrou em situação parecida - quiçá idêntica a ponto de pensar em processar o autor por ter escancarado parte de sua vida na tela do cinema, assim, sem autorização. Romance e humor, muito bem dosados, fazem parte da trama. Tão bem dosados como deveriam ser na vida real, mas "enfin"!
Há muita neve e, como aprendi no curso de teatro, todo objeto de cena deve ter sua razão de ser. No filme a neve tem. E como... Jamais poderá ser considerada excesso ou apelo emocional - pelo menos para mim. E o que é aquele elenco... nem vou me ater aos nomes que não é meu forte, fazer o que? Mas há expressões ali que mereceriam, no mínimo, 24 horas de observação com o DVD em pausa. Uma riqueza para os estudiosos ou amantes da interpretação. Meus aplausos... clapt, clapt, clapt...

"Paris, Te Amo". Uma colcha de retalhos em que cada pedacinho de pano reflete a visão de um cineasta sobre Paris - ou de uma dupla, como a brasileira formada por Walter Salles e Daniela Thomas. Gostei do drama social de nossos conterrâneos sobre a mãe que deixa o próprio filho em uma creche para... bom, não vou contar o final. Claro que há episódios alí sem pé nem cabeça. Aliás, em alguns só faltou mesmo personagens como a folclórica e brasileiríssima mula-sem-cabeça... rs. Bom, deixa pra lá. Isso se perde entre tantas outras boas histórias.
A que mais me tocou, entretanto, é a da turista americana, solteirona e solitária. Tomadas as devidas proporções, acho que o momento do ápice da cena, em que ela realmente descobre Paris e Paris a ela, aconteceu comigo. Algo como: sua felicidade não está em Paris ser o que é, mas em você, que está em Paris. Dá para entender? Se você assistir ao filme vai entender. Do seu jeito, mas vai.

Mesmo sem falar ou entender francês*, estas idas ao cinema me fizeram muito bem. Ouvir francês e rever Paris me alimentaram a alma. E me fizeram repetir intimamente a suave e não tão pouco poderosa expressão Paris, Je T´Aime. Por isso, nem eu mesma sei quantas vezes quero dizer Au revouir!

*preciso corrigir esta lacuna porque desde criancinha acho a língua mais linda do mundo. Certa vez, lá pelos 8 anos, talvez, encontrei nos "arquivos secretos" do sítio do meu avô materno um dicionário de francês. Velhinho, coitado - o dicionário, não meu avô... rs. Que hoje está em algum lugar dos meus "arquivos secretos", em Ibirá. O francês continua a me encantar. Mesmo sem entender além de um bonjour, s'il vous plait, ma-cherie, mon petit... merci - se é que é assim que se escreve. Mas vou aprender. Diminuir o afinco com que realizo certas tarefas menos importantes e dedicar-me ao francês... Ah, o francês... Promessa!

sábado, 21 de julho de 2007

É chegada a hora...

Eu já estava cansada de ser cobrada para que escrevesse um blog. "Jornalista sem blog?", questionavam uns. "É tão fácil fazer um", insistiam outros. Alto lá! É justamente porque sou jornalista e porque é tão fácil fazer um que fui deixando de lado, como tantas outras coisas na minha vida: o livro de poesias... o roteiro da peça de teatro... tudo no rascunho.

Mas inevitavelmente passei a conviver com pessoas e seus blogs. Em alguns momentos tive até raiva dessa tal de internet que faz a gente poder tudo - quase tudo, mas um quase que já é muito. Fui me rendendo aos poucos. Passei a ser visita frequente - e quase invisível - em alguns desses blogs. E no convívio com alguns de seus autores percebi que poderia ser prazerozo. Quase um exorcismo dessa angústia de não ter um livro, um blog, um filho... rs

Claro, como tudo em minha vida resolvi planejá-lo - o blog, não o filho. Tinha que ser perfeito e do jeitinho que eu queria. Diferente do dos outros. E como o universo sempre conspira a meu favor, eu até tinha a melhor data: 17/10/2007, dia em que entraria para o time das Balzaquianas. Ok! Estava decidido.

Mas eu fui percebendo que a vida não ia esperar até lá. Que nem eu mesma poderia garantir que chegaria aos 3.0. "Ai meu Deus! E agora?", pensei.

O despertador tocou e eu acordei essa manhã com vontade de escrever. Decidi: "é hoje". E foi.

Me lembrei do meu diário verde. Lá pelos 12 anos. Ele ainda existe. Guardado na casa dos meus pais. As vezes ainda o leio, no silêncio das minhas lembranças. É tão bom! Eu nem era jornalista, por isso é tão sincero. Tem alma. Tem vida.

Foi através dele, por exemplo, que meus pais descobriram que eu estava apaixonada pela primeira vez. O mesmo diário que hoje me transporta para um tempo que, acreditei, não passaria nunca. Passou.

Agora estou tentando ser sincera. O máximo possível. Mas é difícil. Uma professora muito especial um dia me explicou o porquê de dificuldades assim. Mais ou menos isso: "toda criança nasce com um luz muito forte dentro dela. Como é pequena, a luz tem ainda mais intensidade. Ai vai crescendo e aprendendo um monte de coisas que são jogadas lá dentro da alma. Sim e não. Pode, não pode. É, não é... A criança cresce e esquece que é preciso deixar a luz brilhar. Vai se enchendo de lixo e os raios da luz vão perdendo espaço, perdendo espaço... sobram ainda algumas frestinhas pra luz passar, até que o último raio se esconde. Mas ela me disse isso em um daqueles dias que estamos mesmo sem brilho, tristes e desanimados. Para finalizar, deu a sentença: "Rita, o bom é que você pode remover todo esse lixo ai de dentro. E sua luz vai voltar a brilhar. Ela não se apagou, só está escondida".

Lindo, não! Eu acho.

Ah, ontem também ouvi algo de uma pessoa muito especial que queria usar para finalizar este primeiro - e temeroso, confesso - texto: "Você é o que é naquele momento".