segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Quem disse que toda segunda-feira tem que ser ruim?

Hoje levantei um tanto quanto animada. Há tempos uma segunda-feira não me caia tão bem. Talvez porque a noite de sono me tenha deixado mais leve, depois de um final de semana no qual levei meu corpo à exasustão. Encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar descarregar; encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar, descarregar; encher, esvaziar, arrastar, limpar o pó, erguer, abaixar, carregar descarregar... Ufa! Me fez lembrar meu primeiro curso de teatro, em São José do Rio Preto (interior de SP). O método era o da exaustão física. Segundo o que aprendi durante sua utilização, um corpo cansado simplesmente faz. Não apresenta resistências. Confesso que não cheguei a essa etapa. O cansaço me impediu de prosseguir.

Já no Macunaíma me dei bem com a técnica da memória emotiva, de Constantin Stanislavski. Aquela na qual você recorda como seu corpo se comporta quando está sob determinado tipo de emoção, para refazer esses movimentos. E a mim, faz mais sofrer esta etapa de busca do que o repetir, repetir e repetir dos ensaios posteriores, que tantos odeiam. É nessa repetição que sinto meu corpo apropriar-se das ações, dando-me permissão para colocar alma nas cenas. E de posse delas, meu corpo há de sentir falta quando no palco chegar a hora de repetí-las mais uma vez, diminuindo minhas chances de ficar sem ação diante da platéia.

Talvez por isso, também, tenha sentido falta de Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e os seus. Já tinha me apropriado de trazê-los à minha cama todas as noites, por uma ou duas horas, em minha incursão no Tête-à-tête, de Hazel Howley. Isso até semana passada, quando o tempo passou a faltar-me. Ontem não. A sensação era de missão cumprida. E pude levá-los novamente à cama por mais de uma hora - o que, diriam seus mais íntimos, não é privilégio de poucos, nem tampouco é sinônimo de uma noite de extremos prazeres, que não intelectuais. Não sempre, claro.

Mas encontrei alguns trechos que decidi reproduzir neste recomeço. Um deles poderia ter sido francamente escrito por mim. Mas na minha covardia sinto-me mais à vontade declarando que abaixo segue trecho da carta de Beauvoir para Algren, seu amante americano.

"... nunca foi muito fácil para mim viver, embora eu seja sempre bem feliz - talvez por querer muito ser feliz. Gosto muito de viver e odeio a idéia de morrer um dia. E aí sou gulosíssima, quero tudo da vida, quero ser mulher e homem, ter muitos amigos e ter solidão, trabalhar muito e escrever bons livros, viajar e me divertir, ser egoísta e altruísta (...) Está vendo, é difícil ter tudo o que quero. E, depois, quanto não tenho sucesso, fico louca de raiva."

Me incomodava apenas o "quero ser mulher e homem", que talvez não entrasse se fosse minha a declaração. Não sem a compreensão do trecho que segue, tirado do capítulo "A mulher independente", da consagrada obra de Beauvoir "O Segundo Sexo". Após ele, confesso, busco ser um pouco desse homem, esse tal Primeiro Sexo...

"A vantagem do homem (...) é que sua vocação como ser humano não vai contra seu destino como homem em nenhum aspecto (...) Seus sucessos sociais e espirituais lhe dão um prestígio viril. Ele não é dividido. Ao passo que se exige da mulher que, para realizar sua feminilidade, ela se torne objeto e presa, o que vale dizer que tem que renunciar a suas reinvidicãções como um sujeito soberano."

Eu passaria um dia e tantos outros escrevendo sobre isso e até discordando, em partes, de Beauvoir. Mais simples é dizer que nós, mulheres de uma geração pós década de 70 e nossa queima de sutiãs; de uma geração que busca fazer valer as declarações de Balzac; de uma geração desestabilizadora do poder soberano dos homens; ainda somos fruto de uma cultura que divide homens e mulheres e não os vê como complementares. E isso me basta para entender a "crítica" Beauvoiriana. Pelo menos por enquanto, pois sei que vou continuar a pensar nisso...

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