"Sou como todos os outros pais", foi o que ele me disse, interrompendo meu discurso ao telefone. A voz era de quem sorria e sabia o que eu ia dizer. Um pai-herói. Daqueles que você não encontra no gibi.
Que saudade das histórinhas contadas com as entonações certas, a pausa para a respiração, os tons de voz compatíveis com os personagens... coisas que depois fui estudar, no teatro. E que ele aprendeu sozinho, pra me agradar.
Um dia, orgulhosa, pude falar ao Mauricio de Sousa, pessoalmente, que através da turma da Mônica o meu pai, que pouco estudo teve, me alfabetizou. Eu lia gibis, mesmo sem saber ler. Nossa enooorme coleção de gibis. Minha e dele.
Mentira. Ele não é especial só porque é meu pai. Não conheço quem não goste dele. Não conheço. Aliás, só uma coisa fez com que tivesse inimigos. Só uma. A tal da democracia. Mas não a da livre escolha. A democracia que anda amarrada à política.
Foram três eleições. O sol nem tinha nascido e lá estávamos nós, nas ruas, pedindo voto. Depois de uma noite quase em branco planejando os últimos detalhes para a decisiva manhã. Eu era criança. Bem menina. E me lembro até o número que o elegeria vereador: 14.692. E olha que minha memória nem é tão boa assim, mas eu me lembro. Defendia esse número com unhas e dentes. Defendia a dignidade do meu pai.
Que orgulho eu senti no dia que, por ser radialista, pude entrar para acompanhar de pertinho a apuração dos votos. Orgulho meu e dele. Dava pra ver nos seus olhos. Se ele tivesse perdido, não importava mais. Já tínhamos vencido. A filha que nem formada era já estava ali, entre os profissionais de imprensa, pertinho da notícia que todos os amigos - e na ocasião também os inimigos - queriam saber.
Hoje já não é mais vereador nem candidato, para alívio da família. Os que se fizeram inimigos não são mais. E voltaram a admirá-lo. As vezes ele ameaça voltar à atuante vida política, mas não sei. Acho que não.
Bem, se voltar... estarei lá.
Meu pai é daqueles que não precisa dizer para você saber, mas diz. Que sabe o momento de calar e de se colocar a postos. Que respeita as vontades, os desejos, os gostos. Meu pai foi daqueles que nunca disse não. Ou dizia sim, ou dizia: "você acha que deve fazer isso?". A decisão era minha.
Dizem que somos muito parecidos. Fisicamente e em gênio. Essas comparações de família... a Ritinha é o pai escrito, já o Betinho é a mãe. Enfim, tomara. Tomara que eu tenha herdado um pouquinho da magia que você tem, do caráter, da humildade, do amor incondicional. Tomara que eu possa ser tão amada quanto você é, pelos que te cercam.
Viver seria uma grande brincadeira, um romance, um conto de fadas, "se todos fossem no mundo iguais à você". Te amo, meu velho. Simplesmente porque você é do jeitinho que é. Te amo!
Em tempo:
Quanto mais releio minhas postagens de hoje, mais infantilizadas as percebo. Mas agora entendo. Hoje é Dia dos Pais. É dia de ser filha. E como filha, serei uma eterna criança, a eterna menina do pai.
domingo, 12 de agosto de 2007
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