segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ela me inquieta ao mesmo tempo que alimenta

"Filha, a vida é um espetáculo e você está no palco. Isto não é um ensaio. Faça de tudo para que seja sua melhor apresentação. É sua única chance." Foi mais ou menos assim, com um jeito bem diferente deste, que é seu jeito próprio e único, que meu pai um dia me chamou a atenção para uma lição que desde a infância tenta me transmitir. Para ele, não existe meio termo. "Você tem que ser o melhor no que faz e orgulhar-se disso, mesmo que seja o melhor lixeiro", diz. E me é tão clara a escolha dele... ser o melhor ser humano.

Mas esta postagem não é sobre ele. E sim sobre a inquietante personagem que caiu no meu colo desde que aceitei dedicar-me novamente ao teatro, mais do que como platéia e não mais como estudante. Um desafio perturbador que me inquieta e alimenta minha ansiosa busca por superação. E que me fez lembrar o pensamento destacado por meu pai, com a qual abri este devaneio. Sim, porque muitos outros personagens poderão vir depois deste, mas como todos os outros, esse será único.

A identificação foi imediata. Diante do texto que me foi passado pelo grupo eu sabia que seria a responsável por dar vida àquele. Identificação que não significa escolha. Existia um deles que me colocaria na zona de conforto, seguindo esta linha do eu que encontra-se em fase tão presente, tão recheada de mim mesma, tão de olho no agora por diante...

Mas... pensando bem, quão desmotivador seria sair da coxia para me representar? Afinal, é para dar vida ao que não sou que decidi estudar teatro, subir ao palco. É nisso que vejo graça, que me encanta a atuação. Até porque, quando um autor escreve um personagem com endereço certo, desmerece o ator, acredito. Com raras exceções que são verdadeiros mimos... homenagens. Mas normalmente vejo desmérito.

O conforto nem sempre é bom... engessa...

E ainda que de forma embrionária e tímida, já comecei, no entanto, minha busca precoce diante de um texto a ser terminado, pelo corpo ao qual terei que me adequar. O pensamento, as idéias, a pouca idade... Mas volto a falar sobre isso quando estiver já mais a vontade com o personagem ao qual terei que dar vida. Eu só precisava desabafar. E me comprometer aqui com ele, em público.

Por enquanto, a relação que mantemos é imaginária. Assim sendo, sinto-me como objeto inanimado que há de ganhar movimentos quando o personagem começar a ganhar vida. Antes, porém, há um longo caminho a ser percorrido.

Nota de rodapé:
- Pai, eu jamais conseguiria reproduzir o jeito que é só seu, por mais que digam que somos muito parecidos. Por um daqueles descuidos imperdoáveis perdi aquele seu e-mail. Mas usei meu jeito para transmitir o que gravei aqui dentro, naquele espaço mágico que une meu coração à minha mente.

Um comentário:

Anônimo disse...

carComo sou orgulhosa de saber que tenho uma amiga como você. Tão talentosa em tudo o que faz, eu ainda vou assistir uma peça de teatro sua. E este, com toda certeza, será um dia muito feliz para mim!!!