terça-feira, 11 de setembro de 2007

Mulher solteira procura

Janeiro. Sexta-feira. Marginal com trânsito lento. Os relógios do canteiro marcam 19 horas 57 minutos e 28 graus. Ana volta do trabalho para casa depois de uma semana de trabalho intenso. Diretora executiva, ela tem cargo e salário invejados por muitas mulheres que como ela estão na casa dos 30 e poucos anos. Garantia do bom apartamento e do carro que entre tantos apetrechos, tem no retrovisor multifunção seu preferido.
Tudo o que ela quer é chegar em casa, tomar um banho e relaxar em frente a TV revendo pela milésima vez algo como "O Diário de Bridget Jones" - filme que ela jura ser inspirado única e exclusivamente em partes de sua vida. Mas, de repente, eis que surge ao lado o príncipe encantado, montado em sua super máquina, cabelo ainda molhado, barba propositalmente por fazer e aquele sorriso irresistível. A troca de olhares é invevitável. Bendito é o trânsito já as 20 e tantas horas daquela sexta quente... e como! Não há maior sintonia do que entre os retrovisores, testemunhas das caras e bocas.
O calor aumenta, como era de se esperar. Não é mais preciso ver quanto marcam os relógios...
A boca saliva mais que o normal. Os cabelos são meticulosamente jogados de um lado para o outro, impulsionado por dedos e mãos tensos. O suor escorre pelo corpo... pernas entreabertas desapercebidamente... olhares de desejo são trocados...
Logo adiante uma placa sinalizadora traz a seta para a estratégica saída à direita, em uma ruelinha que não diz aonde vai dar. Cenário perfeito.
Ela freia mais adiante. Ele, logo atrás. A sombra de Don Juan se aproxima lentamente, acelerando ainda mais o coração de Ana que, disfarçadamente, ainda encontra tempo de retocar o batom e dar uma leve borrifada do perfume que é jogado rapidamente na bolsa semi-aberta. A sombra vai ganhando forma, cheiro... Ele se debruça na janela do carro.
Um charme... aquele sorriso... o olhar sedutor... as mãos das quais ela tanto deseja sentir o toque... Mas as mãos... uma delas está dentro do carro e passa por Ana... a outra segura algo que faz suar e tremer ainda mais. Ana agora suspira ofegante. O rapaz, com seu estonteante sorriso, parece embebedar-se com o aroma que sai do frasco de perfume, dentro da bolsa que agora vasculha.
Ainda confusa, ela só se dá conta do que acontece quando o príncipe solta um encantador: "Isto é um assalto, meu docinho!" e afasta-se com a arma ainda em punho, o dinheiro, o celular, o relógio e tudo mais que Ana até lhe daria, sem problemas, em troca de uma ardente noite de prazer.

Justificativa:
Sei que ando um tanto quanto afastada de você, meu blog. Coisas da vida. Dentro de mim há coisas lindas e boas acontecendo, mas não para serem escritas aqui.
Sinto sua falta, claro. As vezes me pego relendo e relembrando de quão boa é nossa relação. E ontem a noite, vasculhando detalhes da minha própria vida guardados entre caixas e pastas, encontrei este texto escrito em 02/03/04 como um dos exercícios do curso de teatro. E resolvi postá-lo aqui.
Eu volto, pode esperar.

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