quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Coisas do "Corpo"

Demorei mais do que gostaria para registrar estas impressões. Aliás, tanto a demora quanto as impressões foram, digamos, coisas do "corpo". Uma, a demora, coisa do corpo cansado, entregue as tarefas do dia-a-dia. Outra, as impressões, coisa do corpo que traz para a alma a presença de corpos expostos, em cena, destinados à arte. Falo do espetáculo do Grupo Corpo que assisti na segunda-feira (06/08). Dois atos, inúmeras reflexões, uma certeza: encantadores!

No primeiro, "Sete ou oito peças para um ballet", uma reapresentação de 1994. Cores em ritmos mais leves, suaves... E como me é comum e necessário, quando estou diante de um palco busco a essência, a história, ainda que as minhas próprias essência e história. Ali, entre movimentos que se repetiam em cada corpo, mas cada qual a seu tempo, com seus ritmos e formas, de repente uma coreografia que se desprendia do todo. Um ballet solitário entre os membros do mesmo grupo que continuavam a dança cadenciada. E aquela solidão crescia, ganhava alma, luz própria... foi quando percebi quão importante é que alguém se destoe, vez ou outra, quando tudo está muito igual. Mesmo que mais tarde as coisas se pareçam novamente como antes. Mesmo que, na verdade, não sejam mais como antes.

Intervalo.
Tínhamos pouco tempo - 20 minutos - enquanto os demais disputavam os banheiros e as últimas taças. E nós só queríamos colocar a conversa em dia. Afinal, nossos últimos bate-papos, sem voz, entre letras e ícones do messenger, se resumiam a trabalho, trabalho, trabalho. E ali, na platéia, com as luzes nem tão acesas, nem tão apagadas, ainda envolvidas pela poesia a que acabávamos de ser expostas, só queríamos falar de nossas próprias vidas. Experiências complementares vividas de formas tão diferentes e peculiares. Uma conversa interrompida pelo aviso de que o espetáculo ia recomeçar.

No segundo ato, o nova criação do grupo: "Breu". A beleza do contraste entre o preto e o branco. Aliás, ali percebi que nem sempre as cores são mais belas que o contraste entre o preto e o branco. A boa composição de brilho e fosco dos tecidos. O ritmo alucinado das grandes cidades e seus encontros e desencontros muitas vezes cantados ou escritos, de repente ali, dançados, coreografados... como tirar os olhos do palco? A angústia do estar e do ser a dois, em grupo, ou só... cenas lindas e perturbadoras... talvez porque eu as visse como reflexo do que anda aqui, bem dentro de mim.

E aquela trilha... este CD Breu que estou ouvindo agora... Pode ouvir? Que pena.
E naquele começo, bem quando os artistas voltam ao palco, Lenine brincou com os sons com o mesmo gosto com que Cibelle brinca em "The Shire of Dried Electric Leaves"... e acabou brincando comigo.

Os movimentos já nem pareciam respeitar os ritmos. Havia harmonia, no entanto. E eu, ali, entregue às minhas sensações, tão estática por fora quanto me sentia agitada por dentro.

Ficha técnica (para os aplausos finais):
Grupo Corpo
"Sete ou oito peças para um baile" (1994)
coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: Philip Glass / UAKTI
figurino: Freusa Zechmeister
cenografia: Fernando Velloso
iluminação: Paulo Pederneiras

"Breu" (2007)
coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: Lenine
figurino: Freusa Zechmeister
cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras

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