Os letreiros dos relógios ao longo da avenida se revezavam entre os 8ºC e as horas que se iam pelas 19h e seus minutos. O filme que eu e minha amiga queríamos ver já havia começado quando atingimos o abrigo quente e, digamos, bem "habitado", do HSBC Belas Artes... Cheiro do Ralo. Escolha precedida de curiosidade e incentivada por questões de trabalho, neste caso não menos prazerosas: Heitor Dhalia, o diretor do filme e da O2, é um dos entrevistados dela para a próxima edição da revista Propaganda, na qual nós duas trabalhamos. Mesmo diante disso, decidimos que trabalho seria conversa para a manhã do dia seguinte, a segunda-feira. Motivo, aliás, para desistirmos de esperar a sessão das 21h30.
Já diante da ansiedade da balconista, que nos serviria provavelmente um chá para que não fosse em vão nossa ida ao cinema, decidimos que o cremoso chocolate quente da livraria Cultura, no Conjunto Nacional, encerraria melhor nosso domingo. Mãos nos bolsos e corpos encolhidos para minimizar os efeitos do frio, lá fomos nós, caminhando pela avenida Paulista...
Disputávamos cada minuto em silêncio para falar ou para ouvir, cada uma a sua vez, do seu jeito. É mais ou menos assim que acontece entre a gente. E é assim que o assunto nunca tem ponto final. Algum dia, em algum lugar, vamos retomar a partir daquela vírgula ou reticências deixadas para trás porque algo mais curioso nos saltou à vista. Ou quem sabe revelar aquele segredo que só uma amiga de verdade é capaz de compreender que foi importante tê-lo mantido no mais absoluto sigilo.
Do tradicional chocolate já tinham bebido o último gole. Fui de submarino - bebida tão saborosa e quente quanto. E ali permanecemos discursando e discutindo e discordando e concordando sobre nossas vidas e relações, até que o som ambiente foi invadido por uma voz capaz de anunciar que nós duas - e toda a multidão que estava ao nosso redor - tínhamos 5 minutos para "evacuar a área" (não tão sério assim, óbvio).
Voltamos pela encantadora Paulista, cenário de meus sonhos de menina do interior que queria morar na capital só para poder andar assim, sem hora para voltar para casa, por aquela avenida que agora era toda minha.
Nos despedimos... mas até isso é muito difícil. Há delongas por um assunto pendente. Até que aquele garoto se aproximou e, com um simples olhar, percebemos que era hora de ir embora. Foi assim que nos despedimos, sem dizer ao menos uma palavra.
De um salto entrei e liguei o carro, mas o menino só queria dar sinal ao ônibus que, só depois, avistei no retrovisor. Agora era chegar em casa, tomar um banho quente e me entregar ao desejado livro ao qual não mais resisti, depois de meses de paquera naquela mesma prateleira da Fnac, onde eu e minha amiga nos encontramos horas antes. O livro? Tête-à-Tête. Li algumas dezenas de páginas antes de adormecer, suficiente para perceber que Hazel Rowley há de me proporcionar agradáveis momentos nas próximas noites frias, com sua obra e seus ilustres personagens: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.
Depois eu conto.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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