sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Meu coração vagabundo quer guardar o mundo...

Não poderia ter sido melhor minha última tarde de 30 anos. Amanhã, quando eu acordar, já terei 31. Idade que me fez refletir mais sobre ela mesma do que quando entrei para o clube das balzaquianas, contrariando a reação geral de minhas amigas mais velhas. Curti fazer 30. Me assustei diante do mais 1. Por pouco tempo. Passou e há algumas horas de virar a folhinha do calendário já entrei no clima de aniversário que tanto me faz bem. Sempre fez.

E hoje, diante de um Caetano Veloso despido de corpo e alma, senti que meu coração vagabundo também quer guardar o mundo em mim. Assistindo ao documentário totalmente despretensioso e por isso verdadeiro do diretor Fernando Grostein Andrade, voltei à minha adolescência e gostei do que vi. Tanto nas minhas lembranças quanto no real Caetano que me foi apresentado hoje.

Fernando, o diretor de apenas 27 anos - e que começou o projeto aos 22 - nem era fã por ele mesmo. Me revelou hoje, em entrevista que será veiculada no propmarkTV, que cresceu ouvindo a mãe adorar o Caetano... perai, eu adorei Caetano! Mas acho que foi essa proximidade distanciada de fã não fanático mas curioso pelo ser que permitiu à Fernando captar com verdade. E Caetano, como nunca se viu - pelo menos não eu - se sentiu a vontade.

Mais espanto ao ler na Trip (agosto/2005) o artigo de Fernando sobre os bastidores das gravações. Ainda escreve bem o multimidia polivalente "pirralho", como diria a Paula Lavigne. E teria sido bom jornalista também. Mas pode bater no peito, Fernando, e dizer: "Caetano se despiu pra mim". Sem timidez ou constrangimentos. Você trouxe a alma do mito à tona. Deu zoom até encontrar o ser humano.

A impressão que fica é que o menino Caetano da interiorana cidade baiana, Santo Amaro, foi brincar na casa do menino Fernando da capital paulista, ou vice-versa. Ambos ali, dispostos a compartilhar experiências e inconscientes das distâncias sociais, seja de tempo ou de estilo de vida. E que ao final do dia voltaram para suas casas para continuarem a vida. Que não será a mesma. Caetano foi visto por dentro e foi Fernando quem aproximou a lente de aumento.

Fernando também me inspirou. Meu trabalho tem sido assim, eu e minha câmera. E é pela falta de parafernália que também tenho encontrado verdade nos bate-papos gravados cá e lá. Amanhã, sem dúvida, ao botar meu equipamento nas costas e partir para mais uma aventura, não me sentirei só. Ou pelo menos gostarei mais dessa solidão profissional que termina quando ligo o REC e disparo a falar com alguém.

Obrigada Fernando, Raul (Dória, o produtor do filme que também me deu entrevista e se mostrou tão encantado quanto eu com esse Caetano), pela recepção carinhosa e pela experiência da minha última tarde de 30. Iara, a assessora também, o Raoni que voluntariamente - "encorajado" e nomeado repórter por 1 dia pelo Fernando - operou a câmera, o Fabio que me serviu café várias vezes e todos que carinhosamente me acolheram nesta tarde.
Obrigada Caetano. Gostei muito de te ver, caminhando sob o sol. Sua pele, sua luz, sua juba.

Agora uma declaração com gostinho de doce de feijão japonês colorido de rosa ao paladar de Caetano: obrigada vida pelos meses bem vividos entre os 30 e o 1 que vem ai ;)
E que comece o melhor dos anos.

OBS. Imagens cedidas pela Cine

Um comentário:

GS disse...

Adorei a matéria ,e que blusinha bonitinha de verdade hein? Aproveite a viagem, bom trabalho !Enjoy .Glória